sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Não vai no fundão, hein!


Rá, mais um post daqueles nostálgicos que são míticos de escrever.

Hoje vou falar de um trauma de infância, que até hoje não superei. Ok, não é bem um trauma, mas se for analisar o fato, é algo perigoso. A situação está ligada ao mar e é o motivo que hoje tento surfar e nunca consigo pegar a onda do verão. Estou falando do local onde apenas poucos foram e voltaram, o lugar onde os fracos não tem vez, o ambiente dos grandes predadores, as catacumbas do limbo limboso do hell atômico pantanoso calmas e profundas águas onde não dá pé. 

Então, se você quer saber como foi minha aventura ao desobedecer a ordem "não vai pro fundo" sem querer, clique em continue lendo. 

Estava eu na praia dos Ingleses, a long time ago, visitando meu pai e irmãos, passando minhas férias e aproveitando tranquilamente. Em um dia pacato, minha avó, que também estava na capital catarinense, acompanhou-me até a praia. Com a idade que eu tinha eu não podia ir sozinho "para o mar", por isso eu sempre frequentava a área de banhistas acompanhado de um responsável. Ênfase no responsável porque quando você está no mar, você está na Terra de Ninguém.

Eu, como um serelepe aspirante ao surf, possuía em meu acervo praiano uma prancha de bodyboard, que havia ganhado como lot em outras quests. Sempre quando visitava o oceano, levava comigo minha fiel escudeira para me proteger das ondas ferozes e me auxiliar em manobras ao deslizar quando conseguia domar as mesmas. 

Isso é uma Bodyboard


No dia em questão, estava eu e alguém mais, ao qual não me recordo. Não entendo como quando criança era tão mais fácil fazer amizade nesse esporte. Hoje, se você é novo, a pessoas te olham atravessado como se você estivesse estreando sua conta no [inserir jogo de MMORPG aqui]. Diz a lenda que no fatídico dia estávamos arrasando na beira da praia, pegando ondas que para nós eram gigantes, a julgar por nossa baixa estatura. 

Como alguns devem saber, o mar é traiçoeiro. Ele aproveita-se do seu descuido para lhe assassinar. De certa forma, ele lhe oferece uma maçã gostosa, porém, envenenada. A próxima vez que você for para a praia, observe e veja como em um momento há uma calmaria, o nível de água vai baixando, as ondas desaparecem, e quando você menos espera, uma enxurrada de tsunamis aparece para destruir tudo o que estiver pela frente. 

Foi nesse clima de enseada, no momento que as ondas cessaram sua batalha contra nós e ergueram seu pano branco, que resolvermos relaxar. Deitamos em nossas super "moris" (chamávamos erroneamente as pranchas de mori) e ficamos ali, conversando e filosofando sobre a vida, já que não existia twitter na época para tal façanha. 

O problema é que, como falei anteriormente no penúltimo parágrafo, o mar é traiçoeiro. Aproveitou-se de nosso descuido e tratou-se de nos sugar para sua enorme boca chamada oceano. Como estávamos deitados sem os pés no chão, não tínhamos noção que estávamos sendo empurrados para fora da orla. E então, quando cansamos de descansar, veio o desespero. 

Ao descer da prancha para colocar os pés no chão, chegamos a conclusão unânime de que estávamos "no fundão"! E é nesse momento que você percebe que você está sendo puxado cada vez mais para longe de sua família, amigos, colegas... sua vida! Começamos a remar, bater os pés, tentar aproveitar as marolinhas que passavam, mas cada vez mais íamos ao encontro do Oceano Índico. Mais um pouco estaríamos na África. 

Exaustos de tanto remar e não sair do "chão", apavorados ao ver a "morte" aguardando ansiosamente por nossas vidas, gritamos para alguns adultos que estavam a poucas centenas de centímetros distantes de nossas pessoas, clamando por ajuda. O herói do dia deu alguns passos, puxou-nos um pouco a frente, e recebemos uma segunda chance para nossas vidas de petiz.

Algum tempo depois, ganhei uma prancha de surf, porém, nunca me arrisquei ir atrás da "arrebentação" para pegar as ondas como um surfista que surfa pegaria. Tudo por causa do dia narrado. Porém, tenho uma história extra, pra você que chegou até aqui. Uma história que reforçou a minha teoria. Prometo que serei breve. 

Essa é uma prancha de Surf


Eu, já mais moçoilo, estava surfando sozinho em um local específico. Depois de algum tempo, decidi aventurar-me atrás da arrebentação, já que tinha uma prancha de surf. A sensação era fantástica. Peguei uma ou duas ondas. Após minha alegria momentânea, o mar resolveu cobrar o que tinha me dado. Lembra que falei do momento de calmaria que ocorre entre as baterias de ondas? Então, o momento apareceu e eu, cansado, decidi ir embora. E quem disse que eu conseguia remar de volta?

Sem ondas para me dar um "empurrãozinho" (que traição, hein Oceano Atlântico), acabei gastando todas as energias e obtendo o que gosto de chamar de fadiga muscular. Eu fazia toda a força do mundo com meus braços e eles não conseguiam impulsionar a água. Vocês não imaginam como é tenso vocês fazerem força para seu braço "andar" na água a uma velocidade mítica e você olhar para ele mexendo-se delicadamente lento como uma lesma em um labirinto de sal. 

Como o mar viu que havia ganho, resolveu poupar-me e enviar uma nova seleção de ondas, que me ajudaram a sair da warning zone.

Por isso que hoje eu não vou pra trás da arrebentação e pego as ondas menores quando surfo. Posso parecer um haole, mas tenho amor a vida que Deus me deu, pois sempre surfo sozinho e se ocorrer algo, foi pra mim. Se eu tivesse um preparo melhor, talvez iria sem problemas. Mas surfando uma vez por ano, se pegar uma corrente, era uma vez EddieTheDrummer. 

E você, já teve alguma experiência parecida?